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quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

A Minha Verdade Sobre Você

Tem muita coisa que ainda precisa ser superada por aqui, inclusive, essa minha vontade de falar de você o tempo todo, como se houvesse amor, carinho ou pelo menos saudade. Não há. O que restou foi só essa vontade de que tudo fique no passado. Essa vergonha mútua por nunca termos dito o que precisava ser dito. E essa chance de recomeçar algo mais bonito e mais sincero bem longe daqui, com outros corpos e outras almas que não sejam tão individualmente desprezíveis como as nossas, quando juntas. Você é o pior de mim, coração, sempre foi. Com você, eu me entreguei a noites sem rumo e sem preocupação, pelas partes mais sombrias da cidade. Você me fez esquecer família, os amigos, os outros amores que tive; me tapou os olhos para os sentimentos das outras pessoas e fez com minha visão fosse focada num único objeto: você, você, você. Eu fui afogada no teu veneno e você jorrou sobre mim as mais fingidas e dramaticamente sentimentais ameaças, como se o que me prendesse a você fosse essa sua falsidade de quem nunca sentiu nada por ninguém; como se eu não soubesse que o que você fazia comigo era um jogo bobo de idas e vindas, esperando o momento que eu ia me render de vez. E depois, o que aconteceria? Você ia por a minha paixão-ou-o-que-quer-que-fosse ladeira abaixo e não dizer nenhum adeus? 
Lembra como eu sempre te chamei? “Coração”, sempre lhe faltou um no lugar dessa pedra fria que tem no peito. E aqui eu te julgo e condeno cada instante que você me iludiu com suas promessas de libertinagem porque, acredite, eu também já me julguei demais. Talvez por isso eu nunca tenha conseguido te esquecer: porque eu também não consigo esquecer quem eu fui, com você. Não houve chance para auto-perdão aqui. Todos os dias, aquela figura me atormenta. Acordo pela manhã com o raio de sol no meu rosto e penso: que bom que hoje há luz. Peço todo dia que aquela escuridão não retorne e que eu continue assim, capaz de sentir alguma coisa, nem que seja pena pela vida que um dia nós levamos juntos.
Fernando Pessoa um dia disse que cartas de amor são ridículas e antes que o poeta encarne em ti, quero dizer que o ridículo das minhas palavras não é fruto de qualquer sentimento bom. Talvez seja uma mera condenação que eu me destinei, isso de ficar remoendo o passado como forma de jamais esquecer o desprezo que eu devo sentir por ele. Nada tira da minha cabeça que muita coisa ali foi inútil, e não me venha com esse discurso de “tudo o que você foi ajudou a construir quem você é”. Eu dispenso. Eu teria sido muito mais grata de tivesse chegado ao mesmo ponto por um caminho diferente. Por isso, não me permito esquecer você para não esquecer quem eu jamais devo retornar a ser. E por mais masoquista ou sádico que isso pareça, espero que você, aí do outro lado de onde quer que esteja, faça o mesmo em relação a mim: lembre da garota da all star usado e camisa de filme que sentava ao seu lado na mesa do bar e repita com fé – “não quero sentir aquilo outra vez, nunca mais”.

Do blog: http://verdademalcontada.blogspot.com/ Texto de Deyse Batista.

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